terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

SOBRE OS NOSSSOS POETAS


Invisivelmente, imperceptivelmente eu já tinha um poeta dentro de mim, pouco visível aos olhos dos demais. Mas só eu sabia que dentro de mim morava um poeta que queria se manifestar. Tinha sede que eu tivesse sede dele; tinha fome que eu tivesse fome dele. Fome? De tudo, que ele pudesse imaginar, mas eu não conseguia alimenta-lo com suas exigências alimentícias; sempre o decepcionava. Sentia que o poeta que morava nas entranhas do meu corpo tentava se manifestar usando diversos tipos de dons que me fazia ter anseio por dedilhar cada um deles assim como o vento dedilha cada folha que compõe uma árvore.

Aquilo me deixava ávido, porém, nunca o satisfazia, e logo chegava a frustração e o sentimento de covardia batia na porta. E o poeta reclamava, debochava; acho que até ria ou fazia festa de tamanha covardia, e eu parecia coelho escondido do primeiro predador. Sua voz ecoava no meu ouvido, “Seu covarde”, essa expressão me fazia um ser módico, contudo, eu nunca perdia o poeta e ele nunca me perdia e recomeçava tudo novamente.

O poeta que mora dentro dos poetas, usa seus corpos para desenvolver sua arte que o volve, porque o poeta interno é mais forte que o externo. O externo só manifesta aquilo que o interno deseja. A sabedoria dos antigos diz: “O que os olhos não veem o coração não deseja”. O poeta sagrado vai mais além: “A lâmpada do corpo são os olhos, se os teus olhos estiverem acessos, o mundo inteiro será luminoso. Mas se estiverem apagados que enormes serão as trevas”. Tomei a liberdade de pensar diferente dos antigos: o que o teu interior não deseja você não vê, ou melhor, o que o teu poeta não vê o teu corpo não deseja. Se Ele estiver acordado, teu corpo fará coisas impressionantes, caso contrário, teu corpo refletirá a morte.

Um dia me pus à frente do espelho e comecei uma caçada ao meu poeta que mora na floresta verde e escura do meu corpo. Comecei pelos olhos. Dizem que o poeta da floresta consegue vê nosso mundo, mas não conseguimos vê o dele. Ele observa o nosso mundo através dos nossos olhos. Incrível, impressionante! Após horas frente ao espelho, tentando entrar na selva do meu poeta eu não consegui ver nada além de um adolescente atônito. Veio o súbito, e de repente a presa saiu da toca, e eu consegui ver o que nenhum outro poeta havera ter visto! Vi o meu poeta visceral preso na alma dos meus olhos! Experiência única e desejável a tantos!

Vi dentro dos meus olhos um sol,
E dentro do sol tinha um abismo,
E dentro do abismo tinha minha imagem refletida.

Deixa-me traduzir:

Dentro dos meus olhos mora um sol, e dentro do meu sol tem um abismo, e no interior do abismo mora Ele: o meu poeta!
Agora  consegue compreender o poeta sagrado? Quando Ele se deleita em cima de suas palavras! Belas! Belíssimas!

Agora conseguem compreender o porquê do sol nos cerne dos olhos...o abismo? Entendeu o paradoxo luz e treva? Não! Ninguém jamais compreenderá o que não se mostra!

Tive outra visão do meu poeta. Não perdi sequer um detalhe do “meu poeta genial”! O poeta da alma e da imaginação. Ele me olhava e eu o olhava. Éramos dois imersos em uma só coisa!

Dentro dos meus olhos tinha um sol,
Dentro do sol havia o buraco de uma fechadura moldado em uma porta,
E por detrás da porta estava ele: adivinha quem?

Era ele, o meu poeta! O que mora dentro de mim; que fica a me observar pelo buraco de uma fechadura. De lá ele vê o meu mundo, mas eu não consigo vê o seu.
Quando o meu poeta está doente tudo mergulha no mesmo lago. Se o interior está mal o exterior também estará; ou seja, se o poeta que mora dentro de mim, de ti... estiver doente o corpo também adoece. Rubem Alves conta com clareza em um de seus versos essa coisa de “poeta doente”, corpo doente. Poeta saudável, corpo saudável!
     
“O corpo saudável é transparente. Sai de si e fica todo no mar, no céu, no sol. É a doença que o torna opaco”.

Antoine de Saint – Exupéry já contava tudo isso em uma de suas maiores obras, “O pequeno príncipe”. “O que vejo não passa de casca, o mais importante é invisível...”.

O corpo é a “casca”, essa metáfora que Saint usou foi das coisas mais verdadeiras e clara que já ouvi. “O corpo é casca”, e o essencial é o poeta que mora dentro de cada um de nós! Por isso cuide do seu poeta e nunca o deseje ver. Os homem quando se depara com o que é visível ele metamorfoseia, manipula, faz construções..., trata logo de fazer várias transformações só para se sentir superior. Talvez por isso Deus seja invisível; os pensamentos; a alma... O teu poeta!

2 comentários:

  1. Oi Evandro, como vai?


    O Adriano me falou que você é poeta. Por isso hoje estou aqui lendo o seu blog.
    Eu achei Muito bonito o que você escreveu, parabéns.

    Abraço, Bruna...

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  2. ai canela cv esta arasando os coracoe da mulherada. rsrsrsrsrs
    gostei do seu blog.....parabens...

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